Número de famílias em incumprimento no crédito em mínimos de cinco anos
- admin
- November 18, 2015
No final de Setembro, existia um total de 636.578 famílias que não conseguiam cumprir os seus compromissos com créditos.
No terceiro trimestre deste ano, 23.512 famílias deixaram de ter créditos em situação irregular. Este número, calculado com base em dados publicados ontem pelo Banco de Portugal (BdP) na Central de Responsabilidades de Crédito, representa a maior quebra trimestral dos últimos dois anos. Mais. O total dos devedores em falha com os seus créditos, entre as famílias, caiu para 636.578, o que corresponde ao nível mais baixo dos últimos cinco anos, remontando para valores anteriores ao resgate financeiro em 2011.
Os dados ontem divulgados pela entidade liderada por Carlos Costa vão ao encontro da tendência de queda das imparidades e de desaceleração das novas entradas em incumprimento já assinaladas pelas principais instituições financeiras durante as apresentações de resultados do terceiro trimestre.
Os 23.500 agregados portugueses que abandonaram o incumprimento, no terceiro trimestre, representam o número mais elevado desde que em Setembro de 2013 se assistiu a uma saída de 26.287, valor que se mantém como o mais elevado do histórico do BdP que remonta a 2009. A diminuição do número de devedores em incumprimento foi transversal a todas as categorias de financiamento.
Na habitação, 2.674 famílias deixaram de ter os seus créditos em situação irregular no final de Setembro, dando seguimento a uma tendência que já se tinha observado no segundo trimestre deste ano. Os últimos números do BdP apontam para que existam agora 149 mil famílias com prestações do crédito à habitação vencidas.
Foi sobretudo no crédito ao consumo que se observou a maior redução do número de devedores em incumprimento. Entre Julho e Setembro, nesta categoria de crédito 19.217 famílias deixaram de estar nessa situação. Além de ser a maior redução dos últimos dois anos, coloca ainda o número total de devedores em incumprimento neste tipo de financiamentos em mínimos de Junho de 2010. No final de Setembro, existia um total de 572.143 de créditos para consumo e outros fins em situação irregular. De salientar que o rácio de crédito vencido neste segmento caiu pela primeira vez, para se fixar nos 14,8%, ligeiramente abaixo do recorde histórico no segundo trimestre de 2015 (14,9%).
Filipe Garcia, economista da IMF explica que o contexto económico-financeiro das famílias, em média, melhorou ligeiramente, mas salienta que “há aspectos técnicos que podem estar por trás desta evolução [queda das situações de incumprimento] nomeadamente o facto de no passado a actividade de concessão de crédito se ter reduzido e de os critérios de concessão se encontrarem mais ‘apertados’ ou exigentes”. Apesar de considerar positiva a recente evolução das situações de incumprimento, Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS)da Deco, também revela algumas dúvidas em relação ao significado da redução das situações de incumprimento. “O crédito à habitação é um dos indicadores que gostamos muito de olhar para perceber se a situação económica das famílias está a melhorar, mas a diminuição do incumprimento aí é relativamente pequena”, explica. Natália Nunes refere ainda que os números de pedidos de ajuda de sobreendividados que chegaram ao seu gabinete se mantêm em níveis próximos de 2012, acrescentando que um dos principais factores que têm ajudado as famílias a não entrarem em dificuldades é a descida do desemprego, “mas à custa do aumento do emprego precário e contratos a prazo com salários mínimos”. “A maior parte das famílias não tem capacidade de reestruturação da sua situação”, defende.
Filipe Garcia também apresenta algumas reticências em relação à futura evolução do crédito. “Acredito que nos próximos meses continue a registar-se uma redução, mas daqui a algum tempo poderemos ter novo aumento em termos absolutos decorrente dos naturais incumprimentos nos créditos concedidos mais recentemente já que a actividade de concessão acelerou nos últimos meses. Em termos relativos, porém, os rácios mostram um aumento ao longo do tempo, reflexo do efeito de memória de processos ainda pendentes”, explica o economista.